sexta-feira, 7 de maio de 2010

Turismo Balnear na Madeira

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Há um pedaço da Madeira que não será preciso reconstruir. A natureza foi selectiva ao destruir a ilha. As enxurradas do dia 20 arrastaram as habitações das terras altas, desceram pelas serras, empurrando carcaças de carros, muralhas de pedras, bocados de casas até à baixa da cidade do Funchal. Lá em baixo, fizeram ainda mais estragos, arrasando lojas, restaurantes, bancos, escritórios, supermercados e centros comerciais. E parou por ali mesmo, na Rotunda do Infante. Como se obedecesse a um sinal stop.
O temporal poupou o Complexo Balnear do Lido, deixou a praia Formosa inteira, o passeio da orla marítima do Funchal intacto e o centro comercial Madeira Forum, na Estrada Monumental, longe das ribeiras transbordantes. “Parece que não estamos na mesma ilha ou sequer no mesmo planeta”, diz João Silva Janeiro, empregado da loja de souvenirs Alfredo Shop.
A cidade do Funchal está agora partida em duas metades desiguais – uma muito maior, que fica lá em cima, onde Hermínio Sousa, electricista de 41 anos, está há mais de uma semana a retirar a lama da sua casa, na Serra de Água (Ribeira Brava); outra cá em baixo, no Complexo Balnear do Lido, onde os clichés do turismo permanecem iguais aos de antes da enxurrada. Alemães balofos a engolir canecas de cerveja, velhotas inglesas consoladas com galões quentes, finlandeses bêbados a misturar balões de brandy com tinto alentejano.
“Quem apanha o táxi no aeroporto do Funchal vem pela auto-estrada e chega à zona balnear da cidade, nem se dá conta de que o mundo desabou em cima dos mais pobres”, conta o taxista Carlos Andrade Matias. Tudo funciona como antes: os turistas espreguiçam nas esplanadas quando há sol, as lojas de souvenirs vendem bordados da Madeira, jornais estrangeiros e postais com as paisagens que deixaram de existir.
Tudo na mesma O presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, está preocupado com a imagem do arquipélago lá fora. Quer que os turistas continuem a entrar no seu jardim, tal como antes. E uma boa parte dos estrangeiros aceitou o seu convite: “Madeira is still very beautifull”, garante Sarah Perkins, inglesa de 77 anos que chegou ao arquipélago dois dias após as enxurradas.
Só que Sarah Perkins quase não se afastou da zona balnear, tal como muitos dos turistas hospedados no Lido. Ficam nos resorts, passeiam nos autocarros panorâmicos que percorrem os trajectos não interditos ao trânsito, vão à baixa espreitar os estragos provocados pelo dilúvio e regressam aos seus quartos de hotéis. “Se tivesse outra idade e mais energia arriscava a subir as montanhas mas, mesmo assim, não sei se iria ceder à minha curiosidade mórbida”, confessa Patrick O’Shea, irlandês de 73 anos.
“Aqui, nesta parte da cidade, só quem quer é que vê a desgraça”, explica, Ramiro Octaviano, recepcionista do Hotel Dorisol, no complexo balnear Lido. A devastação provocada pelo mau tempo na Madeira não está à vista e, para chegar até ela, é necessária alguma preparação física. É preciso subir, descer e voltar atrás num todo-o-terreno quando o caminho está cortado por perigo de derrocadas ou porque as terras desabaram. E há sempre alguns turistas que não têm idade para isso. Usam o seu tempo livre para viajar até aos lugares tropicais e gozam as suas reformas junto ao mar. É isso que procuram. Foi isso que encontraram na Madeira.

Desenvolvimento

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Qual é a realidade que hoje temos? Temos um modelo de desnvolvimento
turístico, onde o turismo balnear representa cerca de 90%,temos cerca de 2/3 da
população a residir nas áreas metroplolitanas de Lisboa e do Porto, temos um país
claramente litoralizado, com fortes assimetrias entre o litoral e o interior, temos um
indicador de pobreza a nível nacional muito próximo dos 30%.E temos um discurso sobre os modelos de desenvolvimento, que no mínimo se reporta um país virtual.
Falamos como turistas, viajantes, conversa de café, enfim temos um debate
sobre o turismo claramente ideológico, absolutamente desfasado da realidade turística
do país.



 
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